quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dissolution

We'll run through our fears,
Laugh at the tears,
With joy in the eyes.
We'll embrace the meaninglessness,
Arms wide open,
The wild run
Wild.
Burn doubts with the speed
Drown feelings in blood,
Peacefully.
Blank the sins of conscience,
Words and thoughts,
Silence
And wind.
We'll fulfill ourselves from the emptiness,
Miles away,
Ahead,
There's no turning back.
We'll crash against the rocks
And it won't stop us.
Bleed in pleasure,
Break the bones,
Rules,
Free the flesh.
Keep running,
Till we're gone,
We'll keep running.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ao menino chorão

Ele te pisa e te pisa e te pisa. Pra ver quando é que você grita. E o mais importante, se você volta. Mas você só choraminga. E quando você volta, ele entende que você não vale nada, o que o faz dele menos ainda. E por isso ele te pisa.

Você só choraminga, se faz de patético, pra ver se ele tem pena. Mas é você quem sente. E fica todo orgulhoso dessa auto-piedade, brincando de amadurecer. Escreve ensaios enfadonhos e rasteiros sobre os infortúnios do amor, toma consolo naquelas canções adolescentes melindrosas. E choraminga. Masturbação que se estende ao infinito, como seus suspiros vazios, infantilóides.

Até que na sua festa ele aparece e te apedreja. E dessa vez finalmente você sangra. Então era essa dor que eu forjava e que agora me sente? Tanta maldade, pra quê? Entende seu papel de idiota, tão óbvio. Nos seus olhos incrédulos ele se reconhece, e te concede a desejada misericórdia. Faz diferença? Para adoçar a dor, há um certo alívio na certeza. No limite que chega. Com essas pedras, ele te liberta.

Acabou a brincadeira. A gota d'água te deu material para escrever, e você transborda no princípio de um bom texto. Porque agora há verdade. E você sente. O vislumbre de tudo o que não é amor, seja lá o que o amor seja. Eis teu começo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Elephant Gun

Enquanto estou enfurnado neste quarto e adio o trabalho, faróis refletem em meu teto. Vocês vêm para cá, vão para lá. Vão para onde? A corrida em respeito aos prazos, novos contratos, progresso. Quais são os sonhos que não soam mesquinhos à indiferença da natureza? Evoluir para onde?

Enquanto aqui o calor apodrece meu lanche e o vento promete verão, vocês tomam sorvete nas padarias. E se conhecem, ou já se conhecem, ou não querem mais se conhecer. Qual é o gozo que não deixa gosto de morte? Os amores e ternuras, servem para quê?

Enquanto me afirmo neste número primo, os hospitais parem teus filhos. E os meninos justificam sacrifícios, e o trabalho, e o imóvel, o automóvel. Te enchem de prazeres e sentido, choro e sorriso, mistérios à tua imagem e semelhança. Estender-se para quando?

De quanta dor e suor, ardor e amor, gentileza e bondade se faz uma estrela? De que servem as promessas, as pinturas e os olhares ao dia que nasce? Dos suspiros, da esperança, da exatidão, de que se alimentam as minhocas?

Que satisfação podes ter essa noite? Nem leito, nem Mântua, pulemos ao início. Direto ao ponto, destruir, destroçar. Revolver a terra, adubar. Explodir o mundo, devolvê-lo ao fim. Desinventar o homem, a arte, a política, religião. Mandar tudo para a puta-que-pariu.

Preciso de um sorvete.

sábado, 7 de novembro de 2009

Beatriz

A amiga da Lau me lembrou do Memória Involuntária e fui rever. O primeiro registro de Beatriz em vídeo, minha primeira pilotagem num programa de edição, a primeira postagem no youtube.

Vejo que a qualidade da imagem está horrível. Na época o tamanho máximo de arquivo para upload era de 100mb e eu não fazia idéia do formato que resolvesse a equação qualidade/tamanho.

Me deu aquela coceira, tive que repostar. Fazer jus à beleza dos meninos, àquele instante incrível e inverossímil, e no entando possível, concreto. Decifra-me ou te devoro, diz a esfinge. Sempre termino devorado.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Soma

Tem vez que o casamento acaba e, e não mas, o amor não. Pois andemos juntos e, e não mas, separados.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sombra em luz

Ouça bem meus conselhos, são deles que careço. Observe meus inimigos, neles eu me evito. Quando eu latir e maltratar e te acusar de ser humano, não pese mais que um espelho. E se eu martelar minhas verdades, ache graça, como é frágil o irredutível.

Enxergar-me parte de um olhar oblíquo, ora míope narcisista, por vezes hipermétrope escapista, quando não delirante, de um astigmatismo poderoso. E de enxergar-te é maior o desafio, pois é preciso que eu te perdoe ao me ver errante, em ti refletido.

Sem teu olhar não me vejo, a te olhar me reconheço demais. Aprender estar contigo é aprender estar comigo, em paz. Andarmos juntos para entender o subjetivo, a solidão. Que verdades são cometas perdidos e nós universos famintos por um maior sentido, que não há.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

R.I.P.

Que a morte seja vida, a perda uma conquista, e uma lembrança não mais que uma medalha. Que as boas e más memórias sejam planas e serenas como os retratos, o profundo se consuma apenas dos de carne e osso, e o amanhã o único desejado.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Navegar é preciso

Se nossas tempestades nos deixarem mareados,
Que a bonança venha de nossa transformação.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dos paradoxos

Tenho compreendido que as obviedades são sabedorias muito sutis, na verdade. Precisam ser vivenciadas para que sejam apreendidas em suas essências. E vivenciar é estar atento ao que se vive, pois o céu é do infinito e a estrela cadente é de um instante. Basta um piscar de olhos para que se perca um entendimento. Crescer também é desvendar o óbvio.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tempo rei

Quando eu era garoto, brincava com a vídeo-filmadora do meu pai. Virava a tarde editando as imagens coletadas na câmera para uma fita no vídeo-cassete. Daí colocava a fita editada na filmadora e juntava a montagem final com a trilha sonora, repassadas a uma terceira fita. E assim fazia meus vídeo-clipes.

Perdi todos, menos um, que fiz para um festival do colégio. Fase de auto-aceitação, trabalhada quase diariamente no doutor Cícero. Tenho carinho por ele, me apresentou Buñuel, e a análise funcionou muito bem. Tanto que depois, no último ano colegial, larguei o divã e pintei o cabelo de vermelho. A série ficou furiosa. A juventude é cruel e as diferenças temidas. Mas não retornei ao consultório e só voltei ao castanho quando o vermelho virou laranja.

Venci o festival. Vencemos, pois houve um empate: dois ganhadores. E ninguém perdeu, já que só havia dois vídeos inscritos. O juri eram a Laís Bodansky e o marido. Me premiaram com a soma de uns duzentos reais, que eu devo ter gasto em cinema, baseado e cigarro. E comprei um álbum dos Cranberries para o Maurício.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Vertigem

O fim é o começo

Meu menino querido, para sempre perdido, está a caminho de casa. Tenho certeza pois não há dúvida agora. E certezas eu só tinha enquanto menino. Minha alma sorri materna à espera do filho, costurando o silêncio em alegria incontida.

Celebro calado esse retorno, solene, em respeito à toda dor e destruição que seu sumiço causou, mas que com a volta ganham sentido. Foi uma longa jornada e nada foi em vão. Meus olhos se voltam ao centro da alma e aguardam a entrada. Sem ansiedade.

Lá no centro já desponta o brilho, que vem do lugar onde eu me esqueci. É ele que se aproxima. Sua aura emana toda sabedoria que nas escolas desaprendi e um novo tempo se anuncia. Um homem nascerá de nosso encontro.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A calhar

O que o vento não levou...
Mario Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo,
um carinho no momento preciso,
o folhear de um livro de poemas,
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ciúme

O rapaz coloca uma coroa de alho na porta da frente, em defesa do amante. Há um vampiro rondando a casa, uma ameaça. Uma mordida e o amado vira mais um morto-vivo. O outro sorri, esse tipo de coisa não existe. E além do mais, por que haveria de ser eu o mordido, se o sangue também corre em tuas veias?

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Vaca Amarela

Foi a vez da "Vaca Amarela": um, dois, três, e os quatro se calaram. Em acontecimento extraordinário, o calar-se não foi de verbo imperativo, não foi pausa de dor ou de mágoa, luto, ou ausência aflita por palavras. Enfim surpresos, descobrimos o prazer do silêncio, desfrutado sem tensão ou culpa, consentido num acordo de cavalheiros.

Fim do estado de atenção. A interação, sempre constrangida e cobrada, agora se fez da não interação. Livres da obrigação de estarmos a todo o tempo presentes, experimentamos apenas estar. Saboreio o movimento, as copas das árvores, fiações, postes, o sábado e o sol de fim de tarde que quase me aquece. O momento é mágico, não haverá o primeiro a falar.

O pai vai sem pressa, errante. Bom estarmos juntos, dividindo em paz nossas solidões. Capitão e tripulantes, seguimos felizes, numa expectativa ilusória de nunca mais (ter que) chegar, estar para sempre a caminho, todos a lugar nenhum, mas juntos, cúmplices. E em silêncio. Então Beatriz se lembrou de outra brincadeira e acabou comendo toda a bosta da vaca.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Chamado

Do útero vazio, fez-se a semente do maior amor do mundo, que brotou assim que o menino nasceu. O choro soou em aviso, e o maior amor do mundo tomou de assalto a existência, afogando o mistério daquela mulher. Mais uma Atlantis para sempre perdida, nasceu a mãe de um menino.

Do mal, a cura: a mãe se embriaga de amor. Amor fértil, de não caber em si, transbordou o seio em leite, a dormir toda uma constelação. Amor zeloso, poupa a cria de toda incoerência e mantém o grão coeso, num útero sonhado de ilusões, onde a mãe se esconde. Amor egoísta.

Lá de longe, de um infinito, ouve-se o eco manso de um lamento. É doce e sedutora a voz que vem do esquecimento. Da cidade submersa, a mulher nina o sono do menino. Ai de mim, ai de nós, meu amor. Vai sem mim, deixa em paz, por favor.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O cínico

O cínico não está de um lado, não está do outro, tampouco em cima do muro. Assiste a História trepado no limoeiro e fica lá, azedo. Não pode ser chamado de covarde, porque mesmo os covardes têm a escolha de guerrear, e o cínico não se dá opções. Para sempre seguro, no conforto da sua torre de desdém, não se perde nem se acha, não se contamina do mundo, nem se cura dele. Que tipo de coisa é o cínico, que não está morto, nem vivo? Com a maior cara de cu ele chupa limão e sorri, clínico, descrente do sorriso.

A gente precisa de veias cheias e raízes fortes, apaixonadas, mesmo que pela destruição. Pulsar, crescer aqui dentro e romper o asfalto. Acabar com as linhas retas, desalinhar pudores. Dos cínicos nada nascerá. Estão encubados no mundo estéril e asséptico dos muros cinzas. Não tomam partido nem se comprometem com nada, ficam no corredor atrapalhando a passagem.

Vão pra merda, seus cínicos!

sábado, 11 de abril de 2009

Elevação

Na minha cidade não há estrelas, mas quem liga para o céu quando se tem a tela? Que nos tira daqui de dentro, ou daqui de fora, e nos leva em fuga a nenhum lugar, onde a gente constrói as coisas mais belas. Procuramos sentido e remédio para nossa frágil condição, ser humano nunca há de ser o bastante, nem as perguntas, nem as respostas.

Então ela aparece e seu brilho nos chama com certa urgência. Quem sobrevive à tela volta ao mundo para o legítimo encanto. Fugir de quê, para onde, se coesa ela garante, tudo está em seu devido lugar. Que outra beleza a ser descoberta, que não ela, cheia e soberana, nua como se pela primeira e última vez? Cessemos a busca, o sentido está lá, suspenso sobre os prédios, incógnito num círculo perfeito. A gente não quer mais nada além do aqui e agora contemplado, em hipnose que nos esvazia de pensamentos.

Céu e nuvens agora existem. Serena, aponta o infinito, preenchido dela e de nossa dissolução. Está tudo certo, o todo. Não há medo ou doença, ódio ou frustração. Nem amor, não há, pois não se vê mais fim em qualquer forma de consciência. A lua é. Somos junto com ela. E basta.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Margens

Ela exibe as conquistas, uma a uma, todas elas. Na ponta dos pés, alcança o fundo. Ensaia bananeiras. Bóia de frente, bóia de costas. Por um metro e meio ela nada sem o apoio da margem e, de metro e meio em meio e metro, atravessa a piscina. Leve e frágil. As vezes se enfia toda n'água e eu temo um afogamento, pode estar cansada. Mas ela vem à tona e sorri num flerte. Eu flerto com meus medos. Ela é feliz na água, me rouba dez sorrisos. Estamos bem, não precisamos de mais nada, o céu está aberto. Como é rápida, pródiga a natureza. Não precisamos de mais nada.

Então ensaia mudar de área. Ir até a primeira raia, atravessar. Flutuar nas águas dos grandes, alto mar azul escuro, onde o fundo não acaba. A margem estará lá de apoio, que mal tem? Vá pela margem. Ela vai e atravessa a raia. Sorri, diz que o pai não deixa. Também não vejo problema, o fundo é uma abstração. Ela vai bem, atravessa mais uma raia, não há erro. Mas o medo erra em mim. Da atração pelo abismo, pelo fim de tudo, por um novo início. Um pequeno pavor. Voltemos à ala das crianças? Não quer. Não há motivo, ela vai bem. Mais um pouco, então, para sempre aflito. Ela leve e frágil.

Se a margem abstrai o fundo, a raia tem o mesmo encanto. Posso ir até lá, no meio? Vou pela raia. Lá longe dos meus braços, a um mergulho e dez braçadas, onde o socorro é mais que um grito. Eu seguro na raia, assim ó... E a lógica vence antes que eu possa negar. Mas eu quero que ela fique. Quero que ela vá. E ela vai. Mas é pra ficar agarrada! Se agarra na raia! Não solta. Olha... a raia afunda... Então volta, Beatriz, volta. Mas ela vai. Não há mais sossego. E ela chega lá no meio. Não afoga. Não morre. Sorri num flerte e acena. Era só meu pesadelo. Mais um pouco e eu não aguento. Mando que volte. Ela volta. Por quê? Porque você deve estar cansada. Eu não estou cansada. Que nossas tempestades não fechem os tempos dela.

O "x" da questão

Ela anseia por um assunto, qualquer assunto. Ele se foca na distração que o tira dali. Tão pouco eu consigo ficar em paz com o silêncio, constrangido por nossa afliçãozinha. Dividimos aquele pequeno desespero à mesa.

Então ela conta qualquer coisa e os três se agarram ao qualquer da coisa, como moleques ao pique-esconde. Enquanto houver palavras, estaremos salvos. Nos empenhamos, mas o assunto não ajuda, não dá margem às perguntas coringas, estúpidas. Logo vejo, não demora e voltaremos ao ponto final. Antes que as vírgulas acabem, me preocupo em encontrar aqui dentro qualquer gancho que nos ganhe algumas letras. O que será que será, o que será que será, o que será que será? E o nervosismo traz o branco. O assunto morre. Toca ela pensar em outro.

Mas foi só o aquecimento. Um pouco de álcool, menos pressão e tiramos de letra. Como sempre fazemos. Não demorou muito até que a comida veio e legitimou o silêncio. Comemos orgulhosos. Ufa. Foi um sucesso. Nos esquivamos de mais um encontro. Salvos de nós mesmos.