domingo, 24 de abril de 2011

Miragem

Sonho contigo e miro teu rosto. Você desaparece e ressurge distante, então está aqui e sorri num flerte. Comenta sobre a aridez do clima e fala da guerra, mas estou mais interessado em saber do gosto que você tem. Se eu mordesse teus lábios, seriam mais tesos ou macios? E as texturas das maçãs, nuca, pescoço, o volume de ar a cada expiração. Se teu olhar fosse despido, em que profundidade estaria translúcido?

É fim de tarde e você está ainda mais ruivo. Os botões abertos convidam aos mamilos e eu imagino as cores e temperaturas da tua nudez. Na luz fria da noite, na cegueira do sol do meio-dia, os desenhos que ela imprime no espaço. Os pêlos, cheiros e a vontade de te morder por inteiro, sentir a consistência. Mas até nos meus sonhos você está vestido, protegido de toda destruição.

Encontrados num oásis, até onde se perderia ao meu lado? Solidão, saliva e suor partilhados. E a sede vingada, sorrisos e sussurros. Nu, como dança em combate? Penso em teu rosto na hora do gozo, nos sons que ecoam da tua des-tensão. E depois? Será que sente preguiça ou logo veste as armaduras? À toa na sombra de nossa suspensão, que histórias contaria a passar o tempo, sob o ruído da areia escorrendo lá fora?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Refresco

Esprema os limões, um a um, quantos forem. Esqueça o freio, os dedos, vá na palma da mão. Se a barraca apertar, abra uma franquia. E outras três, quinze, um milhão de caminhões-pipa da limonada mais azeda do mundo. Toda aquela gente que você quer mandar pra puta-que-pariu? Espreme também, gota a gota, devolve essa putada pra Mãe Natureza. Para o toque final, use toda delicadeza. Decore o refresco com um lindo guarda-chuvinha de plástico, compõe bem com o clima destes tempos cretinos.

Ufa, quase passou. Quem sabe a vizinha empresta uma xícara de açúcar.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dor em flor

O “não” é o limite que liberta, se você não se limitar. Não é mais “talvez”, ”um dia quem sabe”, para um tempo distante que pode ou não chegar. Encerra a dúvida e o caminho, convida para outra direção. Há de se aprender a ouvir o “não” e agradecer, enxergar a generosidade. É o “sim” para tudo o que há de vir, se você procurar. Não é?