terça-feira, 13 de abril de 2010

Redenções

Quis tê-los todos, vagalumes em frascos povoando meu vazio. Amores em conserva na dispensa e eu livre da maldição de minha mãe, o fantasma errante. Medéia assombrada no apartamento em ruínas, intocável. Eles independem de meus desejos e foram embora para outros prazeres, desencantados de meus re-feitiços.

Carreguei as carcaças de meus amores fugidos e as deitei na mesma cama em que gozava com os novos amantes. E com os beijos de terceiros empalhei desejos mortos. Amantes viraram amores e amores foram negligenciados. Como a matriz, zelei pelo sono dos fantamas e esqueci os de carne dormindo no sereno, engordei os finados de ódio e ternura, deixei com fome os companheiros.

Peço desculpas aos mortos, aos vivos, a mim mesmo. Saibam que os amei. Por trás da mimese, sempre estive atento às suas belezas e fragilidades. Aprendi da coragem e da leveza observando seus passos, e presenciei aflito os desastres das mãos do que não soube amar. Enquanto vocês me protegiam com cuidados maternais, eu fazia de mim a mãe ausente de si mesma.

Se fiz que não os enxerguei, foi para ser enxergado, assim como ela, que mais tarde foi a julgamento. Condenada, definhou-se em mim por cinco anos. Pois hoje te liberto, está perdoada, mais que isso, absolvida. Segue em paz, que de ti estou curado. Aos meus amores, todo amor que houver nessa vida e algum veneno anti-monotonia.