sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Circo

Bebia cerveja e falava groselhas. Numa mão o copo colado e a outra equilibrava a máscara, que escorria no suor do esforço. Lantejoulas pingando, sorriso pregado no rosto e o fardo da euforia.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Na janela

A velha da janela não teve forças para ir ao parapeito. Embrulhada na cama, pestanejou e então sentiu a consciência descolar da carne. Assustada, temeu fechar os olhos para sempre. A existência sussurava por relaxamento e deixar-se levar parecia ser o maior prazer que a vida tinha a oferecer. De novo e mais um susto, entendeu que era isso mesmo. Pensou ser uma pena ter ninguém a presenciar o momento tão raro, olhou para a janela e se despediu da moldura. De olhos fechados reviu todo o que passou, mas não se viu porque tudo que ela fez foi observar. E naqueles instantes, era como se ela fosse apenas o tempo, os olhos do tempo a reprisar a vida que desfilou por aquela janela. Antes de morrer pensou que era mesmo uma pena, sorriu engraçada e dissolveu-se pra nunca mais voltar.