quarta-feira, 29 de abril de 2009

Vaca Amarela

Foi a vez da "Vaca Amarela": um, dois, três, e os quatro se calaram. Em acontecimento extraordinário, o calar-se não foi de verbo imperativo, não foi pausa de dor ou de mágoa, luto, ou ausência aflita por palavras. Enfim surpresos, descobrimos o prazer do silêncio, desfrutado sem tensão ou culpa, consentido num acordo de cavalheiros.

Fim do estado de atenção. A interação, sempre constrangida e cobrada, agora se fez da não interação. Livres da obrigação de estarmos a todo o tempo presentes, experimentamos apenas estar. Saboreio o movimento, as copas das árvores, fiações, postes, o sábado e o sol de fim de tarde que quase me aquece. O momento é mágico, não haverá o primeiro a falar.

O pai vai sem pressa, errante. Bom estarmos juntos, dividindo em paz nossas solidões. Capitão e tripulantes, seguimos felizes, numa expectativa ilusória de nunca mais (ter que) chegar, estar para sempre a caminho, todos a lugar nenhum, mas juntos, cúmplices. E em silêncio. Então Beatriz se lembrou de outra brincadeira e acabou comendo toda a bosta da vaca.

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