Ela anseia por um assunto, qualquer assunto. Ele se foca na distração que o tira dali. Tão pouco eu consigo ficar em paz com o silêncio, constrangido por nossa afliçãozinha. Dividimos aquele pequeno desespero à mesa.
Então ela conta qualquer coisa e os três se agarram ao qualquer da coisa, como moleques ao pique-esconde. Enquanto houver palavras, estaremos salvos. Nos empenhamos, mas o assunto não ajuda, não dá margem às perguntas coringas, estúpidas. Logo vejo, não demora e voltaremos ao ponto final. Antes que as vírgulas acabem, me preocupo em encontrar aqui dentro qualquer gancho que nos ganhe algumas letras. O que será que será, o que será que será, o que será que será? E o nervosismo traz o branco. O assunto morre. Toca ela pensar em outro.
Mas foi só o aquecimento. Um pouco de álcool, menos pressão e tiramos de letra. Como sempre fazemos. Não demorou muito até que a comida veio e legitimou o silêncio. Comemos orgulhosos. Ufa. Foi um sucesso. Nos esquivamos de mais um encontro. Salvos de nós mesmos.
lindo, trágico E Real
Há 5 anos
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