quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Elephant Gun

Enquanto estou enfurnado neste quarto e adio o trabalho, faróis refletem em meu teto. Vocês vêm para cá, vão para lá. Vão para onde? A corrida em respeito aos prazos, novos contratos, progresso. Quais são os sonhos que não soam mesquinhos à indiferença da natureza? Evoluir para onde?

Enquanto aqui o calor apodrece meu lanche e o vento promete verão, vocês tomam sorvete nas padarias. E se conhecem, ou já se conhecem, ou não querem mais se conhecer. Qual é o gozo que não deixa gosto de morte? Os amores e ternuras, servem para quê?

Enquanto me afirmo neste número primo, os hospitais parem teus filhos. E os meninos justificam sacrifícios, e o trabalho, e o imóvel, o automóvel. Te enchem de prazeres e sentido, choro e sorriso, mistérios à tua imagem e semelhança. Estender-se para quando?

De quanta dor e suor, ardor e amor, gentileza e bondade se faz uma estrela? De que servem as promessas, as pinturas e os olhares ao dia que nasce? Dos suspiros, da esperança, da exatidão, de que se alimentam as minhocas?

Que satisfação podes ter essa noite? Nem leito, nem Mântua, pulemos ao início. Direto ao ponto, destruir, destroçar. Revolver a terra, adubar. Explodir o mundo, devolvê-lo ao fim. Desinventar o homem, a arte, a política, religião. Mandar tudo para a puta-que-pariu.

Preciso de um sorvete.

Um comentário:

  1. puta-que-pariu!!

    se eu tivesse lido antes, te pagava o sorvete.

    e agora...? pode ser cerveja?

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