terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ao menino chorão

Ele te pisa e te pisa e te pisa. Pra ver quando é que você grita. E o mais importante, se você volta. Mas você só choraminga. E quando você volta, ele entende que você não vale nada, o que o faz dele menos ainda. E por isso ele te pisa.

Você só choraminga, se faz de patético, pra ver se ele tem pena. Mas é você quem sente. E fica todo orgulhoso dessa auto-piedade, brincando de amadurecer. Escreve ensaios enfadonhos e rasteiros sobre os infortúnios do amor, toma consolo naquelas canções adolescentes melindrosas. E choraminga. Masturbação que se estende ao infinito, como seus suspiros vazios, infantilóides.

Até que na sua festa ele aparece e te apedreja. E dessa vez finalmente você sangra. Então era essa dor que eu forjava e que agora me sente? Tanta maldade, pra quê? Entende seu papel de idiota, tão óbvio. Nos seus olhos incrédulos ele se reconhece, e te concede a desejada misericórdia. Faz diferença? Para adoçar a dor, há um certo alívio na certeza. No limite que chega. Com essas pedras, ele te liberta.

Acabou a brincadeira. A gota d'água te deu material para escrever, e você transborda no princípio de um bom texto. Porque agora há verdade. E você sente. O vislumbre de tudo o que não é amor, seja lá o que o amor seja. Eis teu começo.

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