quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Despertar

Os foguetes que construímos, nós os bichos modernos, nos arremessaram para longe da questão. Há este estado catatônico na vida do entretenimento, este gozo sem gosto, o tesão molenga em consumir a vida barata que compramos ao nascer. Está dado o todo, e o mundo se divide nos que morrem de fome e os que morrem sem fome de vida.

Há esse movimento cada vez mais fundo em direção ao limite da superfície. Quem poderia adivinhar que a superfície não é uma linha divisória? É extensa, de frivolidade profunda, e ao que parece, não acaba nunca. Há a superfície da superfície. E a superfície da superfície da superfície. É de se afogar, não se atravessa. Confunde, ilude, conforta. Pois não há lado de fora. Há o estar cada vez mais fora de si, viciado e refém da ignorância de si mesmo. Difícil não ser sobrevida desta vida pastel de cores vibrantes, esfomeada por esvaziamento. Focar o que realmente importa, ter lucidez. O que realmente importa?

Sou freguês da superfície, ela sempre me ganha em banho-maria. Mas a questão pulsa aqui, aí, em todo lugar. A fumaça dos cometas mecânicos não apaga o que a superfície faz esquecer. Desde que o mundo é mundo a batalha é de vida e morte, tudo ou nada. Há interna essa guerra diária. Há de se escolher pelo que sangrar. E sangrar.

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