sábado, 24 de março de 2012

Na fonte

Ao teu lado, a solidão. A sensação de estar longe de casa, à espera de um ônibus que não vai passar. Não chega a doer, embora me entristeça teu abandono. Olho à volta e noto que conheço este ponto: é o deserto em que vacilo, toda vez que faço da vida a espera. Mas há algo de novo.

Há uma solidão ciente de si, a minha presença no conto. Cai em pé e não ouso sentar, qual sentido? Estou aqui num corpo com pernas, Godot desperto, inquieto. Há essa consciência do movimento, da potência, dos desejos, a necessidade de ir. A alegria incontida do recém-descoberto, este estar de passagem ganhando os dias, sem medo de perder nos desencontros, deliciosamente perdido no mistério das possibilidades.

Me sinto encontrado no vazio em mim, faminto de beleza, excitado pelas conquistas vindas de meu movimento. A tristeza pela tua ausência quase me faz esquecer que de fato tenho sorrido muito e suado para caminhar. Digo sim à vida que vem se tecendo com meus passos, sou bobo de negá-la? Em minha mão descubro uma rosa, e o deserto queimando, um desperdício. "Não pude ficar, fui à pé procurar água."

Um comentário:

  1. Sensacional!

    A poesia sugere uma sensação de recomeço indescritível.
    Excelente a inspiração. Afinal, é o que vale.

    Fiz um texto em janeiro de 2010, a sensação se parece, imagino que o contexto também.

    se quiser ler: http://thuancarvalho.blogspot.com.br/2010/01/ponto-final-de-vista.html

    abraço, vou seguie!

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